domingo, 29 de julho de 2007

e drummond sabia mesmo das coisas

amar o perdido
deixa confundido
esse coração.

Nada pode o ouvido contra
o sem sentido
apelo do não

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão


mas as coisas findas
muito mais que lindas
essas ficarão.

eu hoje acordei mais cedo
e azul, tive uma idéia clara.
só existe um segredo.
tudo está na cara

Quero
asas
de borboleta azul para
que eu encontre


o caminho do vento
o caminho da noite
a janela do tempo
o caminho de mim

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Nosso descanço é nosso lugar

que contra-senso é esse
que faz com que depois de atingirmos um notável nível de vida
soframos ameaça de desumanização?
Porque tantas situações de fracassos, decepções e cicatrizes amargas?

É muito difícil alcançar o simples.
O cotidiano nunca é banal ou insignificante, nem pode ser descuidado
As coisas pequenas são as mais importantes e devem ser cuidadas com mais esmero

A ordem é o prazer da razão


***


e surge a pergunta
no final para que servem todas essas formalidades que só nos distanciam ?
questões

regras de vida e viver


***


estranho voltar para esse lugar, quer dizer
não é bem estranho
estranho deve ser só o que eu não consigo definir

sábado, 14 de julho de 2007

Se você viesse e sem dizer palavra alguma, me pegasse pela mão e me levasse daqui,
eu telepática não ofereceria nenhuma resistência, se eu podesse ir.

Se me levasse para um lugar alto, onde eu nunca estive antes,
e me sentasse diante do novo, talvez minha vista se enchesse e minha cabeça apática se esquecesse do mal que me acomete.

Sei que seria só paliativo:
água fria não cura loucura,
histeria não se cura com tapas...
e nem tristeza com indiferença.

Mas é que para o mal da poesia, não há solução...

Humor é mesmo coisa líquida, e eu só queria que você soubesse
que se eu rasgasse feito bicho
marcado a ferro e brasa, um possível abraço seu
é porque eu realmente seria bicho
aturdido
marcado pelo delírio:
para mim é insuportável o silêncio condescendente,
de quem não me entende, mas está a par de tudo.

E se num ato de compaixão
pela miséria sempiterna
me prendesse e insistisse num laço, que trouxesse de volta minha esperança
natimorta
certamenteeu encheria teu regasso dalgum choro lúcido e amargo

e caíríamos

de volta à realidade, em meio a um silêncio ainda mais profundo
( e cheio de significados )

no outro dia também não diria nada, porque saberia que as coisas sérias, não são mesmo ditas em prosa....




... se você ainda existisse.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

O analista de bagé I ( Luis Fernando Veríssimo)

Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que,
por alguma razão, possuem.
Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vem de Bagé,
assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas.
Mas não adianta.
Estas histórias do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé, história apócrifa é mentira bem educada)
mas, pensando bem, ele não poderia vir de outro lugar.
Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego.
Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.


— Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
— O senhor quer que eu deite logo no divã?
— Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.
— Certo, certo. Eu...
— Aceita um mate?
— Um quê? Ah, não. Obrigado.
— Pos desembucha.
— Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
— Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
— Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe
— Outro.
— Outro?
— Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque.
— E o senhor acha...
— Eu acho uma pôca vergonha.
— Mas...
— Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Meu amor se mudou para lua ( Paula Toller)

Cai a tarde sobre os ombros da montanha onde me largo...
o dia não foi, a noite o que será?

Meus cabelos pela grama e eu sem nem querer saber
por onde começo e onde vou parar

Na imensidão da manhã...

Meu amor se mudou pra lua.

Eu quis te ter como sou, mas nem por isso ser sua.
Na imensidão da manhã...

Meu amor se mudou pra lua!
Eu quis te ter como sou, mas nem por isso ser sua...

Vou adiante como posso, liberdade é do que gosto.
O dia nasceu, azul a sua forma.
Já não quero mais ser posse, fosse simples como fosse...

Um dia partir sem ganchos nem correntes.



Façamos um brinde, façamos um brinde!
À noite que já vai chegar

Façamos um brinde, façamos um brinde!

Ao vento que veio dançar

Na imensidão da manhã
Meu amor se mudou pra lua
Eu quis te ter como sou
Mas nem por isso ser sua
Na imensidão da manhã
Meu amor se mudou pra lua
Eu quis te ter como sou
Mas nem por isso ser sua

terça-feira, 10 de julho de 2007

http://www.youtube.com/watch?v=iKeoIcN6at4

domingo, 8 de julho de 2007

Água e lirismo

Jogue uma pedra no leito de um rio

Lá estava eu: esperava por sinais que me levariam à convicção
Mas os sinais... eles não vieram... fui-me.


Se fosse assim tão fácil como escrever; afinal entre
convencer-se realmente e ir embora para não mais voltar
há muita coisa. Sinto-me mal toda vez que tenho que abandonar
o que quer que seja.


Sou um espelho d'água onde caiu uma pedrinha


Aceitar que não se realizou como foi planejado
" e nem era ruim"

como não deixar que o desânimo tome proproções indesejadas?


Depois que a chuva passa a gente vai olhar a janela pra ver como ficou o mundo.



kumori naku
chitose ni sumeru
mizu no omo ni
yadoreru tsuki no
kage mo nodokeshi
Murasaki Shikibu
"Livre de nuvens até a eternidade, a lua refletida se aloja pacificamente na superfície da água"


sexta-feira, 6 de julho de 2007

Dos olhos ( receita caseira)

Querida,
estava aqui pensando nesse momento de ócio em como
eu queria que pousases teus olhos
aquelas duas aves negras

novamente em mim...
e em como eu queria poder expressar a sensação difícil[ de deliciosa]
que eu sinto toda vez que meu olhar serve de pouso ao teu .

me leva tão alto o meu egoísmo, - e só a mim ele serve
se penso que, por um momento teus olhos miram-se em mim...

Assim quem sabe, o que se passa na sua mente não seja eu



porque teus olhos negros, morenice linda
teus olhos de beduína selvagem
às vezes penso que eles têm vida própria
e que gostam de me cativar

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Narciso e Narciso ( Ferreira Gullar)

Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.

Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.

E se o outro é
como ele outro Narciso,
é espelho contra espelho:o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.

E se amam mentindo

no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.


Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.

O espelho embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam,
se ferem,
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.

Amo muito muito ele

Ferreia Gullar


"Nascido em São Luis do Maranhão, em 1930, Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, procurou apontar em sua obra a problemática da vida política e social do homem brasileiro. De uma forma precisa e profundamente poética traçou rumos e participou ativamente das mudanças políticas e sociais brasileiras, o que lhe levou à prisão juntamente com Paulo Francis, Caetano Veloso e Gilberto Gil em 1968 e posteriormente ao exílio em 1971. Poeta, crítico, teatrólogo e intelectual, Ferreira Gullar entra para a história da literatura como um dos maiores expoentes e influenciadores de toda uma geração de artistas dos mais diversos segmentos das artes brasileiras.”


http://portalliteral.terra.com.br/ferreira_gullar/index.htm

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Entre nós...



Sonho de consumo....


almofada da hello kitty?

Não... é esse belíssmo russo se olhos verdes... hummmmmmmm olha a carinha deleeee!
Quero muitoo!



mais hello kitty em:

http://www1.fotolog.com/_hello_kitty