domingo, 16 de setembro de 2007

folhas brancas pedem que eu escreva

Em cima de uma impressora a jato, o monte de folhas brancas pede que eu escreva
Como elas são lindas e como elas são brancas!
Deus do céu que agonia, (que maravilha!) elas pedem que eu escreva...
E eu escrevo. Obedeço. Cedo.
Mas não nas folhas brancas: se a musa se entrega inerte, ( já quase lânguida ), o poeta, por sua natureza, não consente nunca em possuí-la...
Jamais macularei essa uniformidade sedutora, pura e limpa... tão limpa!
E que pede ( e que suplica! ): “Criatividade, Criatividade, Criatividade!”
( Como quem me pede: “ Vida, Vida, Vida!” )

Não jamais, jamais!
Mas eu escrevo: despejo meu furor desvairado em outra folha.
Não tão branca, nem uniforme como o A4,
uma vulgar cheia de linhas, que recebe meu ardor sem entusiasmo, papel que não brilha sob a luz da sala.
E ela continua, ali, aquela brancura insana de linda. Me manterei distante. Ficarei bem longe. Não quero nem tocá-las,
que não controlo a obsessão desse eu-lírico, simbolista pós-concreto, pelas suas musas mórbidas, lunáticas e brancas.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

para o poeta que caminha entre as flores sem saber quem é

Noite passada sonhei
tu estavas em meu sonho.
E no sonho sonhava
que me colhias flores
trazias recortes de poesia publicada em jornal
que te lembravam de mim.
Despertei ainda em sonho
e a realidade parecia um pesadelo
quando sonhava no sonho tu jogavas futebol

E me deste um abraço

Quando eu acordei finalmente
por causa de um sonho
tu te trasnformaste em uma curiosidade consciente

Pois agora quero o artigo indefinido
que orbita a luz opaca dos teus olhos.
E a serenidade marota que
titubeia em teu sorriso sem-graça.

Pensei em esperar:
a qualquer hora
talvez aconteça
que talvez tu percebas
talvez também sonhes.

Ou que ela te canse
porque não te fala de sonhos.

Acredito na beleza fácil do simples:
te beijarei e tu me abraçarás
de novo.

Até que desperte
Outra vez.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

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De repente acontece comigo
eu não caibo mais na vida de alguém.
E por causa do silêncio, acho que devo me contentar até o fim
com as não-palavras

Por vezes,
motivos são sons impronunciáveis, eu sei.
E também estou no oposto disso tudo. Deve haver algo errado em mim.
Por que eu aceito com leveza que você desapegou, simplesmente
e eu sei que aceitar nunca foi não sentir dor.

Nunca foi não se contentar.
Esqueço. Estranho.
Esse sentimento de vazio. Você me tira da sua vida
e é na minha que se abre um buraco.
Matam uma parte de mim. Agoniza essa minha parte que eu nuca habitei. Sinto.

É para quem me mata essa crônicazinha, sem começo ou fim, da minha morte
fracionada.

Descanse em paz, pedaço de mim.



" A maior pena que eu tenho
punhal de prata
não é de me ver morrendo
mas saber o que me mata."
(Guitarra de Cecília Meireles, a bela)

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