sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Você apodreceu antes de amadurecer



Quantas vezes nós conversamos mesmo sobre isso?
Nós dois, aqui na minha cama, no meu travesseiro, dentro de mim.
Mas não há respostas fáceis.
E sigo o dia,
eu ando quilômetros
e é todo um pensamento. Só deram em planos, combinados,
Íntimos, estes.
Você já não faz parte.

Ah, mas é uma coisa que eu não sei dizer, isso que eu sinto.
E se você some.
reaparece como sumiu.
O você que meus olhos criaram, que meu devaneio amamentou de sonho,
Você apodreceu antes de amadurecer.
(Talvez você tenha passado do tempo dentro de mim.)

Quanto tempo faz, desde a última vez?
Não me interessam agora os pecados que cometi nessa vida.
E na expectativa é como se eu soubesse tudo exatamente como vai acontecer.
Já me cansei de enumerar todas as sensações,
Aquelas. Eu as sei de cor, eu já me cansei delas.

Eu sei, nada disso faz muita diferença.
Aqui longe de você.
O que eu sinto agora é uma sensação de despedida.
Sensação de vida acabada
Meu desejo é assim,
Quando as coisas não vão como eu queria.
Quando eu sinto que falta algo.

E pelo ralo vão os cabelos negríssimos, noite em fio.
Murcha a pele ... perde o gosto de vida que vem dela

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Soneto do maior amor, dele mesmo.

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.


E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.


Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo


Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Carta para Núbia, com nos velhos tempos.

Estou tentando me lembrar do que eu deveria escrever agora.

Mas nada me vem à cabeça. O caso é que penso muito antes de me deitar. (Na verdade eu penso já deitada mesmo). Aquela coisa: o sono vem diante da televisão, ou quando chego em casa pregada de cansaço. Mas quando finalmente me deito é como se a mente se sentisse livre do corpo. Não no sentido de desprendimento, viagem astral ou algo assim. Não. Livre do tipo: “É, você conseguiu mais uma vez voltar para a cama”.
Alívio mesmo. Término.
Aí, no escuro, começo a penação noite adentro. Descubro coisa, interpreto bem, argumento e abstraio no silêncio. É meu período do dia mais criativo. Se eu dissesse que é meu período do dia mais produtivo, seria triste.
E mentira. Mentira porque eu simplesmente não consigo me lembrar sobre o que mesmo eu deveria discorrer. Sei que talvez desse em um texto interessante.

De qualquer forma, estou escrevendo e como quase sempre penso em uma pessoa, nesse sentido, de (quase) escrever para alguém.
“Quase” porque a maioria das pessoas para as quais eu escrevo, certamente, não lê os textos. Desse modo, escrever para alguém que não lê é quase escrever para alguém.
É como falar para que esteja longe. (Sem telefone, e-mail, MSN..., naturalmente).
Hoje não, não.
Escrevo para você. Você, você mesmo. Você.
Palavras que para mim soam desconexas, mas você me pediu palavras que lhe fizesse algum sentido. Tudo bem, você não me pediu: “me escreva palavras que façam algum sentido, escreva-me coisas que me digam efetivamente sobre você.”.
Você não se dá com a minha poesia.
Mas ela não é covarde. Um dia ela te (con) vence. Um dia você talvez você seja objeto de minha poesia, que até então, falou muito de mim.

Por fim, se não adiantou nada trocar verso por prosa, pense pelo menos que eu pensei em você.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

nosso heimlich e o e-mail que eu recebi.

"É incrível como me sinto próximo de você lendo Kafka. Não consigo explicar, mas é algo que me faz bem. Me contento em fazer algumas suposições, talvez seja pq Milena é tão inquieta quanto vc ou pq escreve tão bem quanto vc ou ainda pq vc é a única pessoa que conheço com sensibilidade o bastante para compreender o q eu teria a dizer sobre o livro...

Enfim, passei somente pra dizer isso e q de algum modo me conforta ..."



O que eu mais gosto em você, não é forma única como você se declara.
O que eu mais gosto em você, não é o seu jeito simples de falar coisas que eu simplesmente não faço mensão.
O que eu mais gosto em você não é o jeito como você entende tudo que eu falo pelo avesso e ainda sim me faz acreditar que é único que me compreende perfeitamente.
O que eu mais gosto em você não é a sua resitência à poesia que para mim é essencial.
O que eu mais gosto em você não é nem seu sorriso, suas roupas, de longe sua mania de gostar de Ozzy Osborne.

Não é seu jeito de ficar me olhando "como se quisesse me guardar".
Ou essa coisa de falar que Freud e eu temos pacto com o diabo...
Não é como você fala de suas contas, números, retas.
De como você não entende a minha psicologia.
Não é sua voz dizendo as inutilidades da vida.
Não é de como você acha graça em meninos chutando "bola de chumbo"
Nem de como você é meu amigo!
Na verdade meu.. aliás, amigo.
(Eu acredito que nessa vida o que vale é uma boa amizade!) o que eu mais gosto, antes, amo em você, são seus dentes!!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

A volta da mulher morena, VINÍSCIUS DE MORAES





Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena
Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo
E estão me despertando de noite.
Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena
Eles são maduros e úmidos e inquietos
E sabem tirar a volúpia de todos os frios.
Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma
Cortai os peitos da mulher morena
Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono
E trazem cores tristes para os meus olhos.
Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes
Traze-me para o contato casto de tuas vestes
Salva-me dos braços da mulher morena
Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim
São como raízes recendendo resina fresca
São como dois silêncios que me paralisam.
Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena
Livra-me do seu ventre como a campina matinal
Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria.
Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena
Reza para murcharem as pernas da mulher morena
Reza para a velhice roer dentro da mulher morena
Que a mulher morena está encurvando os meus ombros
E está trazendo tosse má para o meu peito.
Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus últimos cantos
Dai morte cruel à mulher morena!