quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

“O Ataque”, de Rupert Thmpson.

Aluguei este livro por causa da resenha da orelha interna. Um homem leva um tiro misteriosamente, não se sabe o porquê exatamente, e fica cego.
Depois de algum tempo ele descobre que pode enxergar à noite. À Noite? Sim, à noite.
Sem querer querendo e não conta pra ninguém.
A partir daí ele mergulha no submundo noturno, naturalmente. Se envolve com todas aquelas pessoas estranhas e caricatas do nosso imaginário: artistas de circo, dançarinas de cabaré, traficantes, prostitutas, roqueiros, funcionários baixos, gente fedida, tiras desiludidos. . Imagina um cara cego vivendo obscuramente nos guetos brancos dos Estados Unidos? Eu logo bolei a imagem de um Demolidor meio dom Juan. Mas o livro não é assim.
O que eu não gosto nos escritores norte-americanos é o que mais gostei, a princípio, neste livro. Ele descreve com precisão, com realismo, as sensações das pessoas. E elas são cheias de defeitos. Cacoetes. Realmente caricatas. Cheias dos problemas, mentalmente frágeis.
As cenas de sexo são precisas. (Não disse que o cara enxergava à noite?). E todos fumam. Todo mundo bebe, ou faz uso de outro tipo de droga.
As falas são entrecortadas de gírias, de palavras de baixo calão. Falam rasgado.
Não há fantasia, e também não há sofrimento. Só a dor física.
E as pessoas vivem como se fossem levadas, como robôs, ou como se todos fossem figurantes. Tudo parece cinza.
Isoladamente, é uma característica que eu não curto muito. Deixa muito em evidência, até força às vezes, um american way of life que não me convence. Acho coisa pra gringo ver.
Parece mais um escritor à lá Sidney Sheldon, mas não é bem um Sidney Sheldon. Esse Rupert gosta de apelar para estes realismos nus e crus, mas não tem enredos fortes como o cabeça de algodão aí em cima..
Tudo bem. O cara ficou cego, mas pode enxergar à noite. E se envolve com o submundo. Ah, e uma mulher do cabaré some do nada.
Nada. Nada em comparação com o DPM da protagonista de “Conte-me seus sonhos”.
Pois é, um dia ele conhece essa tal moça, que acredita que ele é totalmente cego. É engraçada a abordagem dela, ela chega no bar e diz algo mais ou menos assim: “Olá, tem fogo? - aí ele empresta o isqueiro e ela diz: Posso te beijar?” e eles começam um romance tórrido.
Muito excêntrico, parece que ela tem fetiche pelo fato de ele ser cego. E ele se sente muito orgulhoso porque ela é do tipo que chama atenção. E ele é “cego”. Dançarina de cabaré sabe como é, toda exuberante.
No momento o protagonista acha que faz parte de uma experiência que o doutor responsável por ele depois do tiro comanda secretamente. Acha que o cara colocou algum dispositivo na cabeça dele. Pode ser, ou não. O livro dá evidencias tanto de um como de outro.
E a mulher?
Hum.. Ela é do tipo que os machões de plantão desprezariam. Ela é descomprometida sexualmente. Sem encanação. Ela é dançarina. Fuma, bebe, fugiu de casa... Mas ela é toda complicadinha sabe. Apesar de ser independente é cheia dos complexos e segredos. Parece que rola um Édipo. Típica “vadia”, mas pessoalmente adoro personagens complicados. Quanto ap desaparecimento, o livro dá pistas tanto de um rapto quanto de uma fuga, simples, sem explicações.
Antes eu lia sagradamente todas as noites, mais ou menos no mesmo horário, um ou dois capítulos antes de dormir. Aí depois esqueci, larguei. Só voltei a ler por que eu to pagando o aluguel do livro, e só continuei porque na lombada do livro está escrito relativamente grande: “Romance”, ou seja, tudo pode ser, ou não.
Eu vou acabar. Só pra saber se o cara é lelé ou não, se a mulherzinha morreu ou não, se eu vou gostar do livro ou não. Por enquanto eu não sei. Ah, e tem o tiro também: tenho esperança de saber de quem era o dedo por trás do gatilho.
Olha, pra quem gosta é massa! É pra quem curte entrar no universo do personagem de maneira realista, mas sem ser um Marcel Proust. Sinceramente eu prefiro a abordagem de Fernando Sabino, ou Érico Veríssimo. Esses gringos problemáticos me cansam.

Pra que se interessar:


http://www.lovereading.co.uk/book/9780747523796/isbn/Insult-Rupert_Thomson.html

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Acrobata da dor, (Cruz e Souza)


Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta…

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço…

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

E dessa vez, prometo não esquecer a pequenez de nossas almas...